Episódio 3: A rotina de operação e o monitoramento de um data center

Depois de entender o que é um data center e como os sistemas e equipamentos trabalham juntos para possibilitar a continuidade de tudo, chegou o momento de falar sobre algo que muitas vezes passa despercebido, mas que é absolutamente vital: a rotina de operação e o monitoramento constante.

Trabalhar em um data center de alta disponibilidade exige um nível elevado de responsabilidade. Por mais robustos que sejam os sistemas, nada ali funciona no piloto automático. Sempre há uma equipe técnica, treinada e atenta, cuja função é assegurar que tudo opere com precisão a todo momento.

A rotina por trás dos bastidores

Meu dia começava cedo, com uma rotina bem estabelecida. Assim que assumíamos o turno, a primeira tarefa era o checklist dos sistemas críticos (check system), o que incluia:

  • Energia eléctrica: (Transformadores, UPS, baterias, geradores)
  • Temperatura e umidade das salas técnicas
  • Estado dos servidores e equipamentos de rede
  • Alarmes de segurança e incêndio
  • Funcionamento dos ar-condicionados de precisão (PACs)

Cada acção seguia um processo claro, como é o caso de SOPs (Procedimentos Operacionais Padrão), mas sempre aberto à melhoria contínua. E com isso nada era feito por hábito ou por acaso, os processos evoluíam com o tempo, com base na experiência real e no feedback da equipe.

Documentávamos todas as tarefas através de:
  • WO (Work Order – Ordem de Serviço)
  • CR (Change Request – Pedido de Alteração)
Esses registros não eram apenas burocracia. Eram formas leves, mas eficazes, de garantir rastreabilidade e aprendizado contínuo. Sabíamos exactamente o que foi feito, quando, como e por quem, algo essencial para ambientes críticos.

O registro constante e a atenção ao detalhe

Durante o turno, todas as actividades eram registradas em logs operacionais compartilhados. Esses registros não serviam apenas como histórico promoviam transparência total e garantiam o alinhamento entre todos os turnos, independentemente do horário.

Ao final de cada jornada, realizávamos o handover, uma passagem de turno estruturada, na qual a equipe que estava de saida tinha a responsabilidade de comunicar todas as ocorrências relevantes, mudanças realizadas e o plano de trabalho para a equipe que assumiria a seguir.

Esse processo era essencial, especialmente em situações que envolviam CRs (Change Requests). Imagine, por exemplo, a substituição de um disco duro defeituoso em um dos servidores. Nesse caso, cabia ao turno anterior:
  • Identificar o servidor com clareza (rack, número de série, slot do disco)
  • Confirmar o status da solicitação/documentação
  • Entregar todas as informações de forma objectiva e sem margem para dúvidas ao turno de entrada
Tudo isso permitia que a alteração fosse feita de forma segura, sem atrasos nem sobressaltos, mesmo em ambientes altamente críticos.

Durante as rondas técnicas, também realizávamos medições e inspeções detalhadas, como:
  • Leituras de tensão e corrente por fase
  • Níveis de gás refrigerante nos PACs
  • Horas acumuladas de operação dos geradores
  • Tensão e integridade das baterias
  • Verificação de óleo, fluido anti-freeze e sinais de vazamento de combustível
Cada ponto monitorado era um componente essencial da estabilidade do ambiente. Pequenos desvios identificados nessas rondas permitiam ações preventivas antes que se tornassem falhas maiores.
Cada detalhe contava. Às vezes, um simples alarme que piscava ou uma leve variação de temperatura já servia como indício de um problema maior que poderia surgir. E a nossa mentalidade era sempre: agir cedo, aprender rápido, adaptar o processo quando necessário.

Monitoramento em tempo real

Se tem algo que aprendi é que não existe alta disponibilidade sem visibilidade em tempo real. Usávamos sistemas de supervisão e controle que nos permitiam visualizar:
  • Temperatura e Umidade dos PACs
  • O fluxo de energia entre EDM, UPS e geradores
  • O desempenho dos sistemas de refrigeração
  • Detectores de fumaça e gases (ASD)
  • Fugas de água nos PACs ou sob o piso técnico
Esses sistemas funcionavam como o “sistema nervoso do data center”, emitindo sinais constantes. O mais impressionante é que, mesmo com tanta automação, o factor humano ainda era indispensável principalmente para interpretar contextos, tomar decisões rápidas e ajustar rotas.

Era como trabalhar numa equipe ágil, mas de infraestrutura física. Com entregas constantes (monitoramento contínuo), reuniões rápidas e diárias (passagem de turno), retrospectivas frequentes (após incidentes), e foco total no que mais importava: a continuidade do serviço para o cliente final.

Trabalho em equipe

O que mais me marcou foi a cultura de colaboração verdadeira. Engenheiros eléctricos, electrônicos, técnicos, especialistas em redes, pessoal da segurança, limpeza e monitoramento todos com um propósito comum: manter a operação estável e segura.

A comunicação era directa, constante e baseada na confiança. Valorizávamos mais o alinhamento entre as pessoas do que a rigidez de qualquer documentação. Tudo podia ser melhorado, desde que em equipe. As manutenções preventivas seguiam um processo bem definido:
  1. Agendamento dentro de janelas específicas
  2. Planos de contingência bem desenhados
  3. Validação técnica por pares
  4. Testes com e sem carga nos geradores
  5. Registros abertos para análise coletiva
Mesmo com tanto cuidado, imprevistos aconteciam. E aí vinha o diferencial: resposta rápida, com clareza de papéis e foco no resultado. Cada segundo contava e a capacidade da equipe de se adaptar fazia toda a diferença.

O aprendizado real

Esse ambiente me ensinou algo que levo para a vida:
"Excelência operacional nasce da soma entre atenção aos detalhes e adaptação contínua."
Aprendi a:
  • Pensar de forma analítica e iterativa
  • Interpretar alertas e dados em tempo real
  • Ler diagramas técnicos com contexto
  • Confiar em métodos mas ajustar quando necessário
  • E, principalmente, a colaborar com empatia e responsabilidade
Ali, a cultura de melhoria contínua não era apenas um discurso. Era vivida todos os dias.

Conclusão

A operação e o monitoramento de um data center não são tarefas mecânicas, são uma missão viva. Feita de pessoas, processos, sensores, decisões rápidas e ajustes constantes em busca da excelência.

Por trás de cada clique no celular, de cada vídeo em tempo real ou transação online, existe uma estrutura altamente monitorada, coordenada e evolutiva, que garante que tudo funcione mesmo quando ninguém percebe.
Se você se identifica com tecnologia e pensa em seguir uma carreira na área, lembre-se:
Conhecimento técnico é essencial, mas são a atenção aos detalhes, a postura profissional e a capacidade de adaptação que fazem toda a diferença.

Até breve





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