Episódio 1: O que é um Data Center e como tudo começa


 Trabalhei cerca de dois anos como engenheiro de data center. Durante esse período, tive o privilégio de aprender tanto que poderia passar os próximos cinco anos escrevendo sobre essa jornada. Mas, para não tornar a leitura cansativa, decidi criar pequenos resumos em formato de série. Meu objectivo é destacar a essência de um data center, especialmente para quem deseja actuar na área ou, quem sabe, inspirar alguém a considerar essa como uma opção de carreira. Falo directamente com estudantes de engenharia electrônica, eléctrica, informática, telecomunicações e áreas afins  ou até mesmo com os curiosos que se perguntam: afinal, o que há por trás da nuvem?

No princípio...

Após o processo de entrevistas, tive a honra de ser selecionado para trabalhar como técnico de data center. Era o começo da minha carreira na área. O início costuma ser desafiador: o universo dos data centers parece, à primeira vista, um grande labirinto de cabos, luzes verdes, vermelhas e amarelas sempre a piscar, equipamentos barulhentos e normas rigorosas. Minha missão principal era clara: garantir o funcionamento ininterrupto de todos os sistemas e equipamentos.

Mas afinal, o que é um data center? E por que ele é tão essencial no mundo moderno?

O conceito de Data Center

Um data center ou centro de dados, é um edifício projectado especialmente para abrigar servidores e sistemas de rede. É lá onde ficam os equipamentos responsáveis por processar, armazenar e proteger as informações que alimentam o mundo digital. Sempre que você acessa o seu banco, faz uma compra online, usa redes sociais ou até mesmo este site em que está lendo este texto, os dados passaram (ou estão passar neste exacto momento) por um data center.

Esses centros são a base da era digital. São eles que garantem que serviços e informações estejam disponíveis 24 horas por dia, sete dias por semana. Em um mundo tão conectado, os data centers são o alicerce invisível, mas fundamental, da nossa economia e da nossa rotina (claro todos nós precisamos de conexão com a internet)

Como tudo funciona por dentro?

Para manter um data center operacional, tudo precisa funcionar em perfeita harmonia. Cada componente tem um papel essencial, e tudo está conectado para garantir a alta disponibilidade pois este é o compromisso de que os sistemas nunca parem.

No início de cada turno, era minha responsabilidade verificar o estado dos principais equipamentos (check-system / check list), como:

  • Geradores: no nosso caso, um MTU de 1400 kVA e dois Himoinsa de 810 kVA.
  • Transformadores: TFA e TFB, conectados a fontes distintas da EDM (Electricidade de Moçambique), para maior resiliência.
  • Baterias: em data centers, as baterias podem ser conectadas em série ou paralelo, dependendo da necessidade:

Série: aumenta a tensão (ex.: duas de 12V = 24V), mantendo a mesma capacidade (Ah).
Paralelo: mantém a tensão e soma as capacidades (ex.: duas de 12V/100Ah = 12V/200Ah).

As baterias eram de extrema importância porque mantinham os equipamentos críticos activos no exacto momento em que havia uma falha na rede eléctrica até que os geradores entrassem em acção. Esse processo levava entre 10 e 30 segundos, mas para que a corrente fornecida pelos geradores se estabilizasse completamente, eram necessários cerca de 2 minutos. Esse intervalo era crucial para garantir a continuidade dos serviços sem qualquer impacto para os usuários finais.

Trabalhava em um data center Tier IV, o mais alto nível de classificação segundo o Uptime Institute. Isso significa redundância total: tudo desde a alimentação eléctrica à refrigeração tinha pelo menos duas fontes de alimentação. Se uma falhasse, a outra assumia imediatamente.

O controle do ambiente era tão crucial quanto o sistema eléctrico. Os ar-condicionados de alta precisão PACs (os sistemas HVAC) mantinham a temperatura entre 22°C e 24°C e controlavam rigorosamente a umidade. Para detecção precoce de incêndios, contávamos com sensores de aspiração, como o ASD-535, que detectavam fumaça antes mesmo de qualquer sinal visível de fogo. Um elemento também importante é o piso elevado que sustentava os equipamentos pesados, direcionava o ar frio para os servidores e que é onde se organizava toda infraestrutura de cabos.

Um pouco mais do que o esperado...


Esse data center era especial, porque não se tratava apenas dos servidores e equipamentos de rede que você espera encontrar, como roteadores, switches, firewalls e dispositivos de armazenamento. Para nós, que operávamos um centro nevrálgico de comunicações móveis aqui em Moçambique, o data center abrigava componentes ainda mais críticos:

  • MSC (Mobile Switching Center): Pense nele como o centro da rede móvel. Ele é responsável por gerenciar todas as chamadas de voz e mensagens SMS, garantindo que cheguem ao destino certo.
  • HLR (Home Location Register): Este é o banco de dados mestre que guarda todas as informações dos nossos assinantes. É onde o sistema verifica quem você é e quais serviços tem direito.
  • VLR (Visitor Location Register): Essencial para quem está em roaming. Ele registra temporariamente os assinantes que visitam a nossa rede, mesmo que não sejam nossos clientes diretos, permitindo que eles usem o serviço.
  • AuC (Authentication Center): Fundamental para a segurança. O AuC garante que todas as comunicações móveis são autênticas e seguras, protegendo os dados dos usuários e a integridade da rede.

Essas "peças fundamentais" eram indispensáveis para a gestão, autenticação e segurança de todas as comunicações móveis, justificando plenamente o investimento em um ambiente tão robusto e controlado. Sem essa infraestrutura, a operação de uma rede de telecomunicações seria simplesmente inviável.

Como é o começo de carreira na área?

Entrar para o mundo dos data centers vai muito além do conhecimento teórico. É preciso atenção meticulosa aos detalhes, disciplina e resiliência. O dia a dia exige monitoramento constante, reação rápida a qualquer incidente e sede por aprendizado contínuo. Com o tempo, percebi: um data center não é apenas um aglomerado de máquinas. É o guardião das informações mais valiosas do mundo.

Para quem quer se destacar nessa área dinâmica, uma formação técnica sólida é essencial. Além disso, algumas certificações podem te colocar na frente:

CCNA (Cisco Certified Network Associate): para redes de computadores.

AWS Cloud Practitioner: computação em nuvem básica da Amazon.

Azure AZ-900: certificação básica do Microsoft Azure.

Em Moçambique, a adesão a essas certificações ainda é baixa. Por isso, tê-las pode ser o diferencial que falta no seu currículo. E para quem acaba de sair da faculdade ou de um curso técnico em Electrónica, Eléctrica, Telecomunicações ou Informática, começar em um data center seria uma ótima aposta. Lá você poderá conciliar melhor toda a teoria aprendida na escola com o mundo real, digo literalmente tudo. Então fica aí a dica: boa sorte!

Até o próximo post!


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